terça-feira, 10 de junho de 2008

Olhar japonês

Segunda-feira, 09 de Junho de 2008
Olhar japonês
Cem anos atrás quem tentava descrever quem fez o Brasil não precisava se preocupar com japoneses.

Hoje é impossível falar do que somos, sem pensar no que nos trouxe um século de imigração vinda do Japão.

O Jornal da Globo começa nesta segunda-feira a exibição de uma série especial de reportagens sobre o Japão que se tornou Brasil.

E nossa maneira de expressar admiração é dizer uma palavra japonesa que não precisa de tradução para brasileiros.

Arigatô.

Começamos examinando a capacidade da cultura japonesa de absorver as importações ocidentais e transformá-las em referências para nós, no campo da moda.

Moda e vestuário é a primeira reportagem da série especial que o jornal da globo exibe, a partir de hoje, em comemoração aos cem anos da imigração japonesa.

Impossível passar despercebida. A última moda do Japão desfila também nas ruas de São Paulo. Diante da "elegância indiscreta dessas meninas", o estranhamento é inevitável.

Produto de exportação, releitura de influências ocidentais. A moda japonesa tem nas “Lolitas” um dos maiores símbolos.

“Uma coisa rococó, feminina, delicada”, diz Kemi Maksuda, comerciante.

E que tal o estilo "decora"? O termo vem da decoração de árvores de Natal.

“Você se liberta, você coloca tudo o que tem vontade de uma vez, não se preocupa se está combinando, se vai combinar a meia com a saia, você simplesmente se monta e sai feliz”, afirma Lea Bertolin, designer de moda.

O que aqui causa espanto foi incorporado à paisagem do bairro de Harajuku, em Tóquio. O epicentro do universo fashion japonês exagera na originalidade.

"A sociedade japonesa é muito homogenizadora, ela controla realmente muito a juventude o meio da moda rua, do street fashion no Japão, é um movimento alternativo e ao mesmo tempo é uma válvula de escape social lá", afirma Cristiane Sato, especialista em cultura japonesa.

Rebeldia dentro de regras. Lá como aqui, a maioria das roupas é de grifes, que levam boa parte da mesada de Hannah.

"Você é jovem agora, então se diverte agora que você é jovem, fica mais bonita que você puder e depois essa fase vai acabar e você vai ter uma vida séria", fala Hannah Nunes, estudante.

O consumismo na moda japonesa enche o bolso de estilistas brasileiros. Dono de uma loja em Tóquio, o estilista Alexandre Herchcovitch planeja abrir filiais em breve.

"O consumidor japonês é um consumidor extremamente aberto a novidades. Ele sempre quer mudar, e se diferenciar um do outro, acho que porque eles são muito parecidos, a roupa ajuda a um ser diferente do outro", afirma Herchcovitch.

Durante muito tempo, a moda no Japão foi usar o mesmo tipo de roupa: o quimono, símbolo de uma cultura que valoriza o coletivo. Entre os séculos 17 e 19, o chamado período Edo, o país se fechou para o mundo em busca de uma identidade própria e produziu peças como essas, consideradas patrimônio nacional.

Os quimonos ganharam a forma atual e se transformaram em obra de arte. O tecido virou tela. Adquiriu acabamento sofisticado. Um refinamento retratado em pinturas.

Orgulho deixado de lado quando o Japão foi forçado a abrir os portos no século 19. Para ser aceito pelo ocidente como nação civilizada, o país obrigou funcionários públicos e militares a usar roupas ocidentais.

O resgate das raízes só veio a partir dos anos 80. Inspirados na estrutura dos quimonos, estilistas como Kenzo, Yamamoto e Issey Miyake influenciaram o mundo: uma moda alinhada com tecnologia e experimentalismo.

"Acima de tudo, a desconstrução. São roupas que você percebe como que fragmentos que se unem, uma colagem de idéias, cria uma possibilidade que até então não tinha sido explorada em moda”, afirma Jun Nakao, estilista.

O quimono tradicional perdeu espaço, mas não o valor afetivo. A realeza lá e os "súditos" aqui se casam à moda antiga. "Acho natural, já que vou casar com uma japonesa, tem que casar de quimono", brinca um casal de noivos.

Sobre o tatami, como manda o figurino, dona sumiê guarda a tradição. Uma das únicas costureiras de quimonos do Brasil traz do Japão a matéria-prima.

Sorriso fácil, diz que prefere lucrar menos para que os descendentes possam comprar mais trajes típicos.

Do clássico ao extravagante, do mínimo ao máximo. O Japão veste o mundo com extremos. "O que tem de mais vanguarda no Japão é a falta de medo de misturar elementos, do plástico a seda, do tradicional ao contemporâneo, do pop ao clássico, você tem todas as vertentes da moda", avalia Rosali Bizari, especialista em moda oriental.


Fonte: http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0-2742-20080609-323453,00.html

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