quinta-feira, 12 de junho de 2008

Arquitetura japonesa

Quarta-feira, 11 de Junho de 2008
Arquitetura japonesa

Alguns dizem que o melhor retrato de uma civilização é a arquitetura: construções são expressões sólidas e duradouras de uma cultura.

A arquitetura japonesa traz milênios de experiência, traduzida em linhas simples, cheias ao mesmo tempo de simbolismo e serenidade. Ela é o tema da terceira reportagem da série sobre a cultura japonesa.

O espaço onde vivem é cheio de simbolismos. Dividir cada centímetro, uma equação que todo japonês aprende desde criança.

Com 337 habitantes por quilômetro quadrado, 15 vezes a densidade demográfica brasileira, o Japão espreme idéias e repensa a moradia do futuro.

Ambientes transparentes revelam um conceito da arquitetura de vanguarda. "O imaterialismo, ou seja, o espaço é quase contínuo de ponta a ponta, por exemplo, hoje estão estudando muito a coluna de acrílico, de plástico", explica Ruy Othake, arquiteto.

Arranha-céus com amortecedores à prova de terremotos são a versão "high tech" da luta do país para domar a natureza... Arrasadora e inspiradora.

Há séculos, o Japão descobriu na madeira um alicerce. As colunas suspensas protegem dos alagamentos. A estrutura de encaixes, sem pregos, funciona como uma mola.

"A estrutura é concebida para ser flexível e conseguir suportar os abalos que ocorrem", diz Eduardo Nakashima, arquiteto.

Réplica do palácio de Kutsara, em Kyoto, o Pavilhão Japonês de São Paulo traduz a influência da arquitetura tradicional japonesa no Brasil.

O tamanho dos cômodos é medido pelos tatames. "Por exemplo, essa sala que estamos têm oito tatames e as casas são múltiplos do tamanho do tatame", explica Nakashima.

Estilo e sabedoria milenares que muitos brasileiros e imigrantes como seu Hiragami trazem para dentro de casa. "No verão, o tatame deixa o ambiente fresco e no inverno, esquenta. O ambiente da casa fica o ano inteiro na mesma temperatura. Hoje a tecnologia esquenta e esfria tudo com máquina, mas antigamente não existia isso, então, o pessoal pensava”, diz Fumio Hiragami, produtor rural.

Outra marca é a versatilidade, ambientes multiplicados por divisórias e portas de correr. Concepção que um arquiteto pôs em prática ao projetar a casa. Sapatos ficam do lado de fora.

"Na hora que entra em casa, está entrando em outro mundo, então, daí, este ato de tirar o sapato. Também por uma questão de praticidade, de viver no chão, no tatami uma questão de higiene também”, fala Ricardo Miura, arquiteto.

Admiradora de materiais naturais, como palha, fibra, papel e bambu, Valéria decorou a casa em estilo japonês, uma homenagem ao pai.

“As casas japonesas têm as portas mais baixas porque as pessoas se abaixam pra entrar, num ato de humildade, uma coisa mais simples, eu acho que o ambiente japonês lembra isso", fala Valéria Nakano, advogada.

Do telhado que dá vazão à chuva forte, às varandas que ventilam o ambiente, ligar a casa à natureza é essencial para os japoneses. Essa preocupação deu uma dimensão especial à arte do paisagismo.

Como a arquitetura, o jardim japonês tem raízes na China, mas adquiriu uma estética própria. A harmonia brota de linhas assimétricas. Um jogo de proporções e contrastes garante o equilíbrio e convida à contemplação.

Imaginação e espiritualidade. No jardim zen budista, as pedras representam quedas d´água. A areia, o mar e suas ondas.

Na versão mais conhecida dos jardins, pedras sugerem caminhos ao visitante. A lanterna de pedra simboliza a tradição. O bambu, flexibilidade. E a ponte, amadurecimento. A água é o curso da vida.

É diante do jardim que a família Okada reverencia os antepassados e recebe os amigos. "No Japão eles dizem que jardim tem o significado de boas vindas às pessoas que chegam à sua casa, e eu creio que este jardim também retrata isso da gente acolher as pessoas também com esse carinho", Rumiko Okada, dona de casa.

Dentro e fora da casa japonesa não há excessos. O luxo é raro. Mas a beleza está sempre ali, pronta para ser sutilmente descoberta por quem sabe apreciar o detalhe.

"Várias manifestações culturais, da poesia até a arquitetura existe essa coisa da singeleza. Talvez isso faça parte do espírito japonês de ter uma simplicidade elegante, eu acho que é isso. Uma serenidade”.

Na quarta reportagem da série, a arte de dizer muito com pouquíssimas palavras. A concisão é a principal marca do haikai. A tradicional poesia japonesa influenciou vários poetas brasileiros e inspira muitos jovens. Em sala de aula, eles aprendem a escrever e a pensar como os japoneses.


Fonte: http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0-2742-20080611-323597,00.html

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